12 de junho de 2012



Amor pra mais de meio século

Ouvi esta história sentada numa mesa tomando chá com bolacha de água e sal numa tarde chuvosa. Acostumada a presenciar contos de fadas mal sucedidos, fiquei surpresa ao descobrir, não um conto, mas um romance de amor eterno. Não se tratava de uma dessas histórias meramente inventadas, o pós felizes para sempre estava ali na minha frente.
Hoje em dia, grande parte dos casamentos tem data de validade pré-estabelecida, ama-se como ir ao mercado comprar guloseimas – a qualquer hora, a qualquer momento, quando não se tem nada a fazer, e, se o produto não for bom, não existem meios termos, lata do lixo. Devido a esse turbilhão de coisas acontecendo no mundo do amor, eu andava meio desacreditada dele até sentar para tomar chá com bolacha junto ao casal que, logo que saí da casa dos meus pais para cursar a universidade, me adotou para neta.
Às vezes fico pensando que bons tempos eram aqueles em que as pessoas se apaixonavam e faziam serenatas embaixo da janela correndo risco de terminar aquela canção apaixonada com um banho de água fria. Andavam quilômetros a pé ou a cavalo para ver a amada. A espera ansiosa pelo dia do terço na casa de uma comadre era infinita, talvez não tanto pela devoção e necessidade da reza, mas pelo desejo de encontrar mais uma vez aquele anjo que lhe acompanharia pela eternidade.
 A história que tem gosto de chá com bolacha de água e sal não trata de príncipes ou princesas, é gente comum como nós. Quis o destino que logo nos primeiros anos de escola estivessem lado a lado, contudo não se percebessem. Coisas de crianças. Naquele tempo as mudanças eram constantes, devido a necessidade da roça e da sobrevivência. No meio de tanta mudança, foi numa ruazinha qualquer de uma pequena cidade que Maria, que não saía não fosse para cumprir deveres, passava junto a Mariazinha, quando cruzou com uma pequena mudança em cima de uma carroça.
Os poucos móveis puxados pela carrocinha deixavam à vista um rapazinho bem pobre, roupinha batida, chapeuzinho de palha enfiado na cabeça, muito simpático e educado, que quando menos esperava já tinha soltado um “boa tarde!”. O coração de Maria não se desesperou e suas mãos não suaram. Quando seus olhos pousaram sobre aquele que seria o seu prometido, sua boca, involuntariamente, declarou: “Mariazinha, um dia eu vou me casar com esse moço”. E assim foi.
Como na redondeza sempre existia um tio que era casado com uma irmã de um senhor fulano de tal e este era parente de um beltrano, nas festas, bailadas, terços e todo tipo de comemoração estavam todos os vizinhos presentes.  Portanto, os primeiros olhares, sorrisos e perguntas sobre o tempo aconteceram em algumas destas festas.
Depois do passeio no jardim, em que Maria trocou o braço das companheiras para sentar-se ao lado daquele que já fizera seu coração pulsar, ficou acertada a conversa com as famílias para marcar o casamento. Naquele tempo, que não é tão distante assim, não existia namoro de longos anos seguidos do desamor.
Mesmo sem muitas condições, uniram-se perante a lei terrena e também a lei de Deus. Com a bondade, o caráter e a honestidade que até hoje se pode ver através dos olhos, criaram cinco filhos e alguns netos. O tempo foi encarregado de colocar todas as coisas nos devidos lugares. Acredito que se casaram aqui na terra com uma extensão para viver lá no céu.
Com toda a turbulência que a vida lhes permitiu, achei interessante me contarem esta história de mãos dadas, olhos brilhantes e coração unido, como se revivessem cada momento. Hoje, com sessenta e um anos de casamento, trazem no rosto e no corpo as marcas de um tempo e uma vida bem vivida. Não lamentam e não levantam uma só questão de que algo poderia ter sido diferente, afinal, eles foram sempre muito felizes.
A impressão que tenho é de que abri um livro e dele resgatei uma história mágica em que o tempo, mesmo passando tão rapidamente, não se deixou passar, e as dores, os infortúnios que a vida permitiu aos personagens não foram maiores que o amor que os uniu. Mesmo depois de tantos anos, ainda se pode ver brilhar nos olhos de cada um a promessa de que um só entregará o outro a Deus e com muitos choros. 
Com esse exemplo vivo de um amor tão puro fui motivada a acreditar que ainda hoje é possível um amor assim. E, mesmo que não seja tão grande e forte já me conforta saber que ele também acontece na vida real. Para dizer a verdade nunca pretendi um desses amores que chegam num cavalo branco com direito a sonetos na sacada, mas desejo assiduamente um amor que tenha sabor de chá com bolacha de água e sal em dias de chuva.


16 de dezembro de 2011

Confesso que, se pudesse, voltaria no tempo só para descobrir, novamente, como é estar apaixonada por você. 

30 de julho de 2011

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A dor da sua ausência não faz bem ao meu coração... 

2 de julho de 2011

O que será que será

Que quando te vejo me arrepia o corpo, que será
Que quando falas me toca n'alma, que será
Que seus olhos tanto me dizem, que será
Que me faz pensar em você dia e noite, que será...


10 de junho de 2011

Em apenas quatro meses


A MORENINHA¹ colocou O VESTIDO COR DE FOGO² e viveu um AMOR DE PERDIÇÃO³ com O PRIMO BASÍLIO¹'¹. A SENHORA¹'² dona HELENA¹'³, em apenas CINCO MINUTOS¹¹, perdeu toda sua INOCÊNCIA¹² e passou a viver perdida como UMA ABELHA NA CHUVA¹²³.



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Nota:
¹ A moreninha - livro de Joaquim Manuel Macedo, publicado em 1844.
² O vestido - É uma novela de José Régio, faz parte da literatura portuguesa. Foi publicado em 1946.
³ Amor de perdição - Novela portuguesa de Camilo Castelo Branco, escrita em 1862.
¹'¹ O primo Basílio - Romance de Eça de Queiroz,  foi publicado em 1878. 
¹'² Senhora -  um dos romances de José de Alencar, publicado em 1875. 
¹'³ Helena - um dos romances de Machado de Assis, publicado em 1876.
¹¹ Cinco minutos - romance de José de Alencar, publicado em 1856 em forma de folhetim.
¹² Inocência - romance regionalista de Visconde de Taunay. Foi publicado em 1872. 
¹²³ Uma abelha na chuva - romance do português Carlos de Oliveira, publicado em 1953.

29 de maio de 2011

Era infinitamente maio

Olhara-o e descobrira na sua trêmula vitória a mesma perturbação. Ele lhe trouxera timidamente um grito. Fitaram-se um instante e tudo era indeciso, frágil, tão novo e nascente.

Clarice Lispector - O Lustre, trecho.